Poupança, CDBs, LCAs: o que muda nos investimentos em renda fixa com o início das quedas na Selic

 Poupança, CDBs, LCAs: o que muda nos investimentos em renda fixa com o início das quedas na Selic

 

Especialistas consideram que a renda fixa ainda tem boas oportunidades, a depender do tipo de rentabilidade. Queda nos juros também pode beneficiar a renda variável, mas investidores precisam ter cautela.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) anuncia a nova Selic, taxa básica de juros da economia, no começo da noite desta quarta-feira (2). A expectativa geral do mercado é de que a instituição finalmente comece um ciclo de corte nos juros, em meio a um arrefecimento da inflação brasileira.
A taxa Selic está em 13,75% ao ano e resta a dúvida se haverá uma baixa de 0,25 ou 0,50 ponto percentual. O que é certo: títulos de renda fixa, que dominaram o fluxo de investimentos nos últimos anos, terão rentabilidades cada vez menores.
Segundo o último Boletim Focus, relatório que reúne as expectativas de diversas instituições financeiras para indicadores econômicos, a Selic deve ser de 12% ao ano a o fim de 2023 e de 9,25% em 2024.

Com essa perspectiva de que as baixas nos juros estão só começando e ainda devem caminhar durante os próximos anos, pode surgir a dúvida: já passou o bom momento dos investimentos em renda fixa? Especialistas ouvidos pelo g1 consideram que não.

Há boas oportunidades, mas depende do prazo

O analista de investimentos Vitor Miziara, sócio da Performa Investimentos, diz que mais importante do que o corte desta reunião é olhar para o futuro da taxa nos próximos meses. Isso porque o mercado trabalha com expectativas futuras, e já ajusta de antemão a rentabilidade de títulos com base nessa projeção. (saiba mais abaixo)

Ainda assim, o consenso é que há boas oportunidades na renda fixa. Mas é preciso ponderar pois há algumas alternativas melhores do que outras.
Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, afirma que, em um ciclo de baixa nos juros, os títulos prefixados (que são aqueles com taxas já definidas na sua contratação, ou seja, o investidor sabe exatamente quanto vai receber ao final do prazo de investimento) passam a ganhar mais força e espaço nas carteiras.
“Prefixar o retorno de uma renda fixa pode ser atrativo para o cliente, visto o cenário de redução de juros”, explica Caetano.

No entanto, a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, destaca que os prefixados, neste momento, só são vantajosos se o prazo do investimento não for muito longo.
Vitor Miziara compartilha da mesma visão e ressalta que a renda fixa prefixada é mais interessante para títulos com prazo de dois ou três anos, no máximo, que é o horizonte com perspectiva para queda nos juros, por enquanto.
Ele explica que é preciso colocar na ponta do lápis a rentabilidade oferecida no título prefixado e as projeções para a taxa Selic no período de duração do investimento, para saber qual dos dois compensa mais.

A chefe de economia da Rico pontua que, apesar da proximidade do ciclo de corte dos juros, a renda fixa pós-fixada (que tem sua rentabilidade atrelada ao valor da Selic no prazo de vencimento) continua sendo uma boa opção, principalmente para compor as reservas de emergência, já que a taxa de juros continuará elevada mesmo com os próximos cortes previstos — o que deve seguir dando bons retornos.
O mercado se antecipa

Como mencionado por Miziara, as taxas de títulos de renda fixa vendidos hoje já estão ajustadas para as expectativas futuras. Um exemplo é que um CDB atrelado ao CDI (taxa de referência usada pelos bancos e que caminha ao lado da Selic), com vencimento no fim de 2024, não terá taxas tão distantes do que mostra a projeção do boletim Focus para a taxa básica de juros, de 9,25%.
Essa máxima vale para todos os títulos de renda fixa: se as taxas futuras caem, os títulos que são vendidos hoje já replicam essa previsão de queda e rendem menos.
Os grandes investidores do mercado, com destaque para os institucionais e os estrangeiros, sabem deste mecanismo e sempre se antecipam aos movimentos macroeconômicos. Em geral, eles costumam movimentar suas carteiras antes dos investidores pessoa física, que detêm muito menos dinheiro.

Nesse sentido, com as expectativas de redução para a Selic nos próximos anos, muitos desses grandes investidores já lucraram com a venda antecipada dos títulos prefixados.
Funciona assim:
o investidor A compra um título com uma boa taxa já pré-definida e que tem um prazo de vencimento;
outros investidores, vendo as projeções de queda nos juros e sabendo que os rendimentos dos títulos vão cair, querem comprar um título com uma boa taxa;
daí, o investidor A vende o seu título para algum desses outros investidores antes do prazo de vencimento, mas consegue um bom valor com a venda, já que há uma alta demanda por títulos com taxas maiores.

Porém, para Rachel, como o mercado se antecipa à grande massa de investidores, esse bom momento para vender os títulos prefixados já passou e, agora que as taxas oferecidas pelas instituições estão caindo, o prefixado só vale a pena quando o investidor puder levar o investimento até o fim do seu prazo de vencimento, o que garante o recebimento de toda a rentabilidade oferecida.
Renda variável pode se beneficiar, mas sem exageros

Miziara, da Performa, pontua que a renda variável — como ações, fundos imobiliários, ETFs, BDRs e outros — tende a se beneficiar quando os juros caem e isso acontece, principalmente, por dois motivos:

Com taxas menores, os investidores começam a buscar melhores retornos e, para isso, aceitam tomar um pouco mais de risco e migram para o mercado de ações e outros ativos do tipo;
Juros mais baixos também beneficiam as empresas, que conseguem tomar crédito e fazer financiamentos para investir nelas mesmas com mais facilidade, o que pode valorizar os seus papéis na bolsa.

“Além disso, juros em níveis menores tendem a pressionar menos o resultado das empresas, principalmente em relação a despesas e receitas financeiras. Também são um grande incentivo ao aumento do consumo (da população), o que impacta nas vendas das companhias”, diz Caetano, da Toro.

Em contrapartida, a premissa de que o mercado se antecipa também é válida nessa situação e os especialistas consideram que boa parte dos grandes investidores já migrou para a renda variável brasileira, aproveitando que muitas ações estavam desvalorizadas, esperando pelos cortes nos juros.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, já subiu 10,49% em 2023, até o pregão da última terça-feira (1°). Só no mês de julho, quando as expectativas pela redução na taxa Selic já eram maiores, o índice avançou 3,27%.
Assim, os especialistas ponderam que a renda variável ainda tem boas oportunidades, mas que é importante ter critério na hora de escolher os ativos porque alguns deles já não estão com preços mais tão atrativos.

De acordo com Miziara, dois setores da bolsa que já se beneficiaram bastante da queda dos juros são as instituições financeiras e a construção civil — que ainda têm algum espaço para novas altas, mas outras ações ainda podem ter valorizações mais expressivas.
“Quem pode se beneficiar de forma mais direta com o corte de juros são as empresas de varejo e as small caps (empresas de menor capitalização e que precisam de mais dinheiro para crescer). Porém, mesmo diante desse cenário positivo, é importante realizar uma avaliação de empresa por empresa, para atender o atual momento operacional e financeiro daquela companhia”, comenta Caetano.
Com todos esses pontos, um consenso entre os especialistas é que um ciclo de cortes nos juros não é o suficiente para “sair correndo da renda fixa para a renda variável”, porque as duas continuam com boas opções e qualquer decisão de investimento ou alteração na carteira precisa ser bem analisada, seguindo o perfil de cada investidor e seus objetivos.
Nada muda na poupança

Para a categoria favorita de investimentos dos brasileiros, nada muda com as próximas quedas da taxa Selic. Isso porque as regras de rentabilidade da poupança, que é uma opção dentro da renda fixa, são diferentes dos outros títulos da mesma categoria.

As regras são:
Se a Selic estiver abaixo de 8,50% ao ano, a rentabilidade da poupança é de 70% da taxa básica (na proporção mês a mês), mais o valor da Taxa Referencial (TR), que encerrou julho em 0,1549%;
Se a Selic estiver acima de 8,50% ao ano, a rentabilidade fica congelada em 0,50% ao mês, mais a TR.

Dessa forma, com a taxa de juros ainda acima dos dois dígitos, deve demorar algum tempo para o retorno da poupança ter alguma alteração significativa.

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