Dificuldade para ter passagens e chuteira, saudade dos pais: conheça a trajetória de Ary, que fez ‘hat-trick’ no 1º jogo da seleção feminina na Copa
Ary se mudou do Maranhão para São Paulo aos 10 anos e, depois, treinou no Centro Olímpico, onde se formou como atleta. Aí, ela não parou mais de jogar e se firmou na posição de meia-atacante.
A maranhense Ary Borges brilhou na Seleção Brasileira feminina marcando um hat-trick (três gols) e ainda dando passe para outro gol na goleada contra o Panamá, na estreia pela Copa do Mundo, nesta segunda-feira (24).
Dino Borges, pai de Ary, contou ao g1 um pouco da trajetória da atleta, que foi criada pela avó e conviveu dos 3 aos 10 anos com a saudade dos pais até ir morar com eles em São Paulo, para onde se mudaram em busca de trabalho. Foi então que Ary começou a sonhar com um futuro no esporte.
“Saí de São Luís quando ela tinha três anos e então eu fiquei mais de seis anos sem vê-la. Ela não tinha uma lembrança. Aí, a avó cuidou dela, mas sempre disse que Ary deveria conhecer os pais. Então ela veio para São Paulo quando eu e a mãe dela nos casamos”, disse o pai.
Em São Paulo, a infância foi difícil, pois Dino não tinha muitos recursos financeiros no trabalho de montagem de móveis planejados. Ainda assim, ele conta que nada faltou para a filha, especialmente os materiais esportivos de que ela precisaria para jogar.
“Tinha dia que ela não tinha passagem, mas a gente se esforçava. Chuteira pra ela, vale transporte, tudo fizemos nesse tempo em que tivemos dificuldades, mas eu fazia o máximo e o impossível para ela não perder treino e as aulas na escola”, contou Dino.
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Ary é uma abreviatura carinhosa para Ariadina Alves Borges, de 23 anos, que nasceu em São Luís, e morou com a avó, que deu liberdade para a menina jogar com os garotos na infância e desenvolver a paixão pelo futebol.
Quando se mudou para São Paulo, o pai a colocou para jogar com homens 20 anos mais velhos e ela se destacou. “Essa menina fez tudo isso comigo e agora tá arrebentando!”, disse Dino Borges, pai de Ary, ao programa Encontro e citando o que os antigos adversários dela pode estar pensando, atualmente.
Revelação
Os treinos de Ary em São Paulo eram no Centro Olímpico, clube que a formou como atleta. Depois disso, ela não parou mais de jogar e se encontrou na posição de meia-atacante.
A revelação no futebol profissional aconteceu pelo Sport, e depois Ary jogou no São Paulo em 2019, quando ajudou o time a conquistar o Brasileiro da Segunda Divisão.
A meio-campista também passou três temporadas no Palmeiras, onde se consolidou como uma das principais jogadoras do futebol nacional, e atualmente joga no Racing Louisville, dos EUA. Pela Seleção Brasileira, é a primeira Copa do Mundo que Ary Borges disputa.
Inspirações, saudades da avó e temperamento forte
Dentre os familiares, Ary Borges nutre um carinho especial pelos pais, mas também pelo irmão mais novo, Enzo, de sete anos, além da avó que a criou, dona Lindalva, que ainda mora em São Luís.
“Hoje ela joga longe, mas a gente conversa muito com ela por chamada de vídeo. Ela também conversa diariamente com a avó, que a criou desde pequena, para matar a saudade, que é grande”, afirmou o pai.
A personalidade carinhosa e de amor aos pais também mescla com um temperamento forte de Ary Borges dentro e fora dos gramados. Na Seleção, ela é uma das lideranças do elenco dentro de campo, e não tem medo de falar o que pensa.
Em um dos casos mais polêmicos, Ary se posicionou contra a candidatura brasileira a ser sede da Copa do Mundo de 2027 e criticou publicamente a contratação de Cuca pelo Corinthians, no período em que vieram à tona as informações de uma condenação por estupro por parte do treinador, em 1989.
A maranhense de 23 anos se inspira nas craques e revolucionárias Marta e Megan Rapinoe, da seleção dos EUA. Ao mesmo tempo em que vê a seleção mentalmente forte para a Copa, cobra melhorias no futebol brasileiro e ainda não decidiu se apoiará, ou não, a candidatura verde-amarela para receber o Mundial de 2027
As principais inspirações de Ary Borges são a brasileira Marta e a Megan Rapinoe, da seleção dos EUA, que se posicionam contra as desigualdades de gênero no futebol e cobram estruturas e salários equiparados aos homens.